Afirmação x Declaração, por Luana Fonseca
Qual o impacto dessa distinção em nossa vida?
Durante muito tempo vivi de acordo com um rótulo que me deram (minha família, professores, gestores…) e que eu também me dava, o rótulo de responsável. Confesso que achava até bonito esse título e me orgulhava dele. Era muito legal ser reconhecida como alguém que, desde muito nova, era responsável.
Meus pais nunca precisaram me mandar estudar porque eu mesma fazia isso. Colocava o despertador para tocar de madrugada porque gostava de estudar quando a casa estava em silêncio. E nunca precisaram me dizer coisas como: “Cuidado para não engravidar!” ou “Já está na hora de você arrumar um emprego!”, porque eu mesma tinha consciência dessas coisas e me julgava MUITO responsável.
O peso dos rótulos
Aos 18 anos, descobri uma uveíte (uma inflamação na camada média do globo ocular) e depois de uma longa bateria de exames, o médico diagnosticou que a causa era idiopática. Ou seja, desconhecida. Então ele disse que todos nós temos alguma parte do corpo que absorve tudo o que vamos acumulando: estresse, ansiedade, preocupação, etc. No meu caso, o olho. E, para minha surpresa, seu conselho foi: “Seja menos responsável! Permita-se fazer mais coisas da sua idade.” Aquilo foi incrível! Nunca imaginei que um adulto diria para uma jovem de 18 anos, algo desse tipo. Seja como for, esse episódio não mudou meu comportamento.
Anos mais tarde, a vida me trouxe uma nova oportunidade de reavaliar o título que carregava com tanto orgulho. Vivia um momento crítico. Estava no auge da minha carreira e muito infeliz no trabalho. Queria mudar completamente a rota, sem ter muita certeza de como seguir. E o tal rótulo era um grande peso. Como eu poderia, no melhor momento da minha trajetória corporativa, pedir demissão sem ter um outro emprego na manga? Que adulto faria isso? Seria muita irresponsabilidade, não seria?! Bem, minha resposta de hoje para essa pergunta é: Não! Mas naquela época não sabia o que sei agora. Eu não conhecia a diferença entre uma afirmação e uma declaração. E levava minha vida como se a declaração “sou responsável” fosse uma afirmação.
Afirmação x Declaração
Depois que criei coragem e pedi demissão, mergulhei em processos de autoconhecimento e fiz diversas formações. Dentre elas, estudei Coaching Ontológico (uma abordagem que compreende o ser humano como uma coerência entre linguagem, corpo e emoção) e foi nesse momento que consegui aliviar alguns pesos que carregava há tempos.
Quando me aprofundei no estudo da linguagem e dos atos da fala, aprendi que as afirmações seguem a realidade. Em outras palavras, elas descrevem algo que é consenso para uma determinada comunidade. Assim, as afirmações podem ser verdadeiras ou falsas e quem está afirmando algo tem a responsabilidade de apresentar evidências que comprovem o que está sendo dito. Exemplos simples de afirmações são: “está chovendo lá fora”, “essa porta é de madeira”, “meu aniversário é dia 9 de novembro”.
Já as declarações tem o poder de criar um contexto novo. Através de nossas declarações podemos gerar uma nova realidade para nós e para os outros. E, diferentemente das afirmações, as declarações podem ser válidas ou inválidas, de acordo com a autoridade de quem as declara. Por exemplo, quando o padre diz: “Eu os declaro marido e mulher!”, isso transforma a relação a partir daquele momento. Ou, quando um país declara guerra a outro, uma nova realidade se cria.
Um tipo especial de declaração
Além disso, há um tipo especial de declaração que nós conhecemos muito bem, os chamados juízos, que são o resultado daquilo que julgamos. A questão aqui é que os juízos não são inocentes e estão muitas vezes relacionados com o sofrimento humano. Quando julgamos o outro, geramos uma expectativa sobre ele. E quando a pessoa não age de acordo com esse julgamento, isso gera um juízo contrário.
Se eu tivesse aprendido esses conceitos desde cedo, saberia que quando as pessoas dizem: “Você é muito responsável!”, isso é apenas uma declaração. Nesse caso específico, um julgamento que elas fazem a meu respeito. E não uma afirmação, uma verdade absoluta sobre quem eu sou, de fato. Sendo assim, ao longo da vida, eu poderia ter feito outras escolhas, com muito mais leveza e menos sofrimento. Não precisaria ficar o tempo inteiro me preocupando em dar evidências (com minhas ações) de que isso é verdade. Quanta carga há nisso!
Portanto, é extremamente libertador termos conhecimento sobre o poder da linguagem de criar mundos e não apenas de descrevê-lo, e nos compreendermos como seres linguísticos. Já que vivemos e nos relacionamos em redes de conversação. Assim, nossa capacidade de ação se amplia e passamos a escolher, de maneira mais consciente (tanto no âmbito pessoal, quanto profissional), o que queremos sustentar em nossas vidas. E o que queremos soltar ou mudar, porque consideramos que não nos serve mais e nos faz sofrer.
E você, também tem vivido alguma declaração como se fosse uma afirmação?
LUANA FONSECA é coach ontológica, autora do livro Pode Ser Melhor (Bambual Editora), e tem feito declarações com mais consciência do seu poder de criar novas realidades.
Texto originalmente publicado no Portal @vidasimples.
Meu nome é Vanessa
O sol que nos alimenta – Walter Steenbock
Turismo Criativo e Cultura Regenerativa – o que há em comum?
Vamos Regenerar o Planeta!
Faz tempo que cientistas, biólogos, arquitetos, designers, professores, pesquisadores, escritores e mais um monte de gente avisa dos descaminhos que a humanidade está trilhando ao lidar com os elementos naturais como meros recursos para seus desejos, sem o olhar sistêmico que este lindo organismo vivo que é a Terra precisa.
Confesso que quando li a primeira vez a pergunta “o que fica nos espaços depois que tiramos o petróleo?” fiquei imaginando um monte de buraco vazio lá embaixo de tudo, prestes a desabar.
James Lovelock, apoiado pelos estudos da bióloga norte-americana Lynn Margulis, em seu trabalho sobre a Teoria de Gaia, deixa claro que somos parte de uma teia intensa de vida, complexa e interdependente. Mas, porque não conseguimos organizar nossas vidas, casas, bairros, cidades, países de acordo com as informações e percepções de autodestruição que se apresentaram ao longo das últimas décadas? Faz tempo que sabemos que a Revolução Industrial trouxe progresso, mas também uma conta alta, como as relações humanas ‘automáticas’ e a hipervalorização do ‘ter bens’ em detrimento do ‘ser quem se é’.
O “conhece-te a ti mesmo”, ressaltado por filósofos e místicos desde que o mundo é mundo, foi substituído pelo slogan “imagem é tudo” e fez com que o ser humano descolasse a atenção de si e passasse a se orientar a partir do olhar externo, seguindo normas e padrões desconexos com sua realidade e com seus verdadeiros anseios. Perdendo a autoconexão, ‘esquecendo’ do ser biológico que somos e das necessidades que precisamos atender para manter nosso equilíbrio, também descuidamos do território que vivemos, perdendo o sentido do lugar que ocupamos.
A saúde passou a ser algo cultivado com exames clínicos e comprimidos, substituindo a boa alimentação por snacks, o ar puro pelo condicionado (olha esse nome!), a energia vital inerente a movimentação de nosso corpo pelo anestesiamento físico com drogas e o anestesiamento mental com o ‘barulho surdo’ da tv.
A busca pela sustentabilidade tem a ver com a tentativa de resgatar a vida “verdadeira” do ser humano, conectada com os movimentos da Natureza que interferem em nosso corpo, no clima de onde vivemos, nos processos que geram o alimento, o ar, a água. Mas este pensamento foi logo usurpado e virou ‘desenvolvimento sustentável’, maquiando a exploração desenfreada e sem mudar a lógica e a ação. Este é o paradigma antigo. Este é o business as usual. Este é o responsável pelo embasamento da nossa visão de mundo, que não nos deixa sentir e enxergar a realidade, que nos distrai o tempo todo com cores brilhantes dos ecrans e músicas chicletes, nos fazendo acreditar em um mundo de faz de conta tecnológico e, o pior de tudo (presta bastante atenção agora): nos fazendo acreditar que não temos capacidade para construir e realizar o que realmente queremos; que não somos capazes de compreender nossas limitações mútuas e, ainda assim, dialogarmos e vivermos o dia-a-dia em harmonia. Não aceitar estas condições é viver no Novo Paradigma. Seja bem-vind@!
A regeneração começa exatamente aqui: reestabelecermos as relações transparentes e sinceras, principalmente conosco mesmo. Perceber quem realmente sou e assumir minhas diossincrazias, meus autoritarismos, meus talentos, meus desejos. A partir daí, a partir desse território que conheço e controlo, poder explorar e aprofundar as conexões com outros seres humanos, animais, vegetais, minerais, e transcender.
A regeneração econômica precisa começar pela regeneração das relações humanas para que as trocas e os fluxos sejam coerentes, consistentes e equilibrados. Se não sei minha necessidade, como posso pegar isto do mundo? Pegarei muito? Pegarei pouco? Estou avaliando todas as consequências das minhas escolhas?
“Solo saudável, plantas saudáveis, pessoas saudáveis”, já dizia Ana Primavesi. Quando foi que perdemos nossa saúde? Regenerar o solo é regenerar a vida humana.
Estamos diante de uma escolha.
Isabel Valle, publisher da Bambual Editora





