Se Atrever a Viver a Vida, por Sergi Torres

Pense em algo que possa fazer você  muito feliz. No que você pensou? Bem, pois  isso que acaba de pensar não é o que o faz  feliz, é apenas o que você pensa que lhe faz  feliz. A felicidade e o que você pensa que  é a felicidade não são a mesma coisa. 

Desculpe-me iniciar de modo tão direto, mas quanto antes nos dermos conta disso,  antes perceberemos que não sabemos ser  felizes. Lutamos quase toda vida para conse guir o que pensamos que nos fará felizes, mas,  na realidade, se formos honestos, lutar por isso nos faz infelizes. Que ironia, não é mesmo? 

Houve um momento na minha vida em  que, graças a Deus, tive que me deter. Eu não  suportava a dor de viver dessa maneira: perse guindo o que pensava que me faria feliz e, ao  mesmo tempo, afastando-me da felicidade.  Era muito esforço para viver algo que já não  tinha mais sentido. Mas, o que é a felicidade? 

Vamos nos aproximar um pouco mais  dela, porém, antes devemos nos dar conta  definitivamente que aquilo que acredita mos que é a felicidade nada mais é que  um autoengano. A maioria de nós acredita  que a felicidade é um sentimento; e que para sentir esse sentimento feliz dependemos  de alguém ou de algum acontecimento ex traordinário. Mas, e se a felicidade não for  apenas um sentimento? 

Como se explica a alguém que sentir a tristeza que sente agora também é ser feliz? Como se mostra a alguém que pensa que ja mais será feliz, que já é feliz? Não sei, mas,  para mim é claro que a felicidade, assim como  o amor ou a paz, ainda são assuntos pendentes para a maioria dos seres humanos.  

Quando nos dermos conta que a vida é  a felicidade, poderemos celebrar cada ins tante, ainda que ela esteja cheia de mistérios  e desafios. Porque, não nos enganemos,  acreditar que a vida é felicidade é um desa fio, sobretudo enquanto pensarmos que os  outros nos fazem felizes.

A capacidade que os outros tem de  nos fazer felizes é zero. Por outro lado, nos- sa capacidade é máxima, mas, devido à for ma como pensamos, não nos damos conta  disso. Não tem sentido querermos ser felizes  e, ao mesmo tempo, pensarmos pensamentos que não nos fazem felizes, certo? Mas,  quem são os responsáveis por esses pensamentos? Nós mesmos.

Nós seres humanos, adormecidos em nossa arrogância, pensamos que a felicidade é uma questão exclusivamente humana. Mas, se há algo que posso assegurar é que, quando você olha para um céu estrelado, para uma árvore na floresta ou para uma baleia jubarte, está vendo formas de felicida de, porque são todas formas de vida.

Há alguns anos alguém me perguntou se  eu me atrevia a ser feliz. Hoje entendo que o que a pessoa me perguntava era se me atrevia  a viver a vida. Acontece que o medo de ser o que somos e viver a vida plenamente é a única  coisa que impede que possamos olhar esse  instante e descobrir a felicidade de estar escrevendo essas palavras, no meu caso, e lendo-as, no seu. Inventamos uma felicidade que implica não sentir tristeza, que se baseia no bem-estar e em um rosto sorridente.

Permita-me terminar tal como começamos. Pense em algo que possa fazer você muito feliz. Você já pensou? Muito bem. Você se atreve a deixar de perseguir isso que pensou e a descobrir a  felicidade que já está presente? 

Sergi Torres é palestrante, escritor e precursor de uma nova consciência. Realiza encontros pela Europa, Américas Latina e Central e Estados Unidos, e um ciclo mensal no Teatro Goya, em Barcelona, cidade onde nasceu e vive. Acaba de lançar, pela Bambual Editora, a primeira obra em português, Me Acompanha? – Um Convite ao Despertar. Estará no Brasil pela segunda vez, em São Paulo, de 16 a 19 de setembro.

Texto originalmente publicado na VejaSP, coluna A Tal Felicidade, de Helena Galante.