Meu nome é Vanessa

por Vanessa Lemgruber

Escrevo, danço, pinto, me expresso sobre a vida enquanto a sinto em mim.

Em um mundo cheio de rótulos, decidi deixar para trás os que me deram e me intitulei ecofeminista, o que inclui refletir sobre a inapropriada e inexorável dicotomia entre cultura e natureza.

Existem mistérios temporais cujas causas primeiras ninguém nunca saberá. Acredito que você e eu estejamos vivendo num ponto de mudança, especialmente por conta dessa danada falta de jeito com a qual estamos tratando a natureza. Precisamos caminhar juntas!

Sabe aquele universo mágico de J.K Rowling sobre escolas de bruxaria, na qual um livro sai da estante e bate na aluna que estava passando desatenta pela prateleira, e que mudaria os rumos de sua vida?

Essa mágica aconteceu comigo.

Já estava com tudo pronto para meu tema de dissertação do mestrado, entrei com um plano infalível: análise dogmática de leis ambientais; contratar uma revisora para transformar meu estilo de escrita em algo mais palatável na academia das PhDeusas; usar o título para manter a ótima colocação nos concursos que eu estava prestando.

Prateleiras mágicas mudam vidas: meu orientador – um bom homem – me incentivou a mudar o tema, porque viu o brilho dos meus olhos ao falar de ecofeminismo.

Ecofeminismo pode ser uma palavra recentemente nova, mas condensa o pluriversalismo e as sabedorias antigas. Tudo pode ser tão mais simples quando voltamos às bases, sem olvidar das novidades paradigmáticas da ciência, claro.

Eu sou muito urbana, mas venho de longas famílias de mulheres e homens rurais, que se enxergavam como natureza. Afinal, o maior sacrilégio da pessoa urbana é esquecer da natureza que reside em si.

Ecofeminismo é um modo de ver e se portar no mundo, tanto pessoal quanto coletivamente. Por exemplo, uma das maiores pautas ecofeministas é a dignidade menstrual. Pessoalmente, uma mulher pode pensar em utilizar os bioabsorventes ou coletores menstruais que duram mais ou menos 5 anos, tanto para reduzir a geração de plástico, mas também para que o fluxo menstrual fique livre das toxinas, dos microplásticos e das bactérias.

De forma coletiva, é fundamental pensar que nem todas as mulheres podem gastar mais ou menos R$10.000,00 em absorventes descartáveis, mas para elas os bioabsorventes ou coletores não resolveriam, pois vivem em um contexto de enorme insalubridade, pouca privacidade e quase nenhum acesso a água potável.

Eu vi no ecofeminismo a potência de reconhecermos nossos ciclos menstruais e como iremos agir, a partir desse conhecimento, a efetiva sororidade. Nós, mulheres, nunca fomos inimigas umas das outras.

Eu hoje AMO meu corpo do jeitinho que ele é, mas nem sempre foi assim.

eu ODIAVA menstruar, ODIAVA o fato de ter um útero. Pesquisei várias vezes como acabar com isso, como retirar isso de mim. Afinal, só me trazia transtorno, tabu, vergonha.

A aceitação do meu corpo numa sociedade que constantemente diz que sou incompleta por ter um útero, que sou menos válida por menstruar, que tenho mais responsabilidades por isso…. é complexa!

Sabe por que eu não o amava tanto? Sabe por que muitas mulheres ainda negam a potência do próprio corpo? Eu até entendo. São tantos e tantos anos ouvindo que o feminino nada vale, que não prestam, que o masculino é o dono da razão.

Em verdade, verdade, vos digo: não há razão, muito menos um dono ou dona dela.

Minha mãe foi minha grande e primeira guia no caminho de volta ao meu copo. Foi assim:

Lembro de esconder meus absorventes porque era (e ainda é) um grande tabu dizer que ESTOU MENSTRUADA, mesmo quando mais da metade da população mundial menstrua. Minha grande sorte foi ter uma mãe como a minha, que me ensinou a observar meu fluxo usando a folhinha da quermesse que tínhamos em casa e marcar meus sentimentos, minha ovulação, minha menstruação, tudinho!

As ecofeministas mais descoladas chamam de Mandala Lunar! Ferramenta incrível, Se ainda não a conhece, procure saber mais. Ela é que nem a folhinha da quermesse de minha mãe, mas com outros desenhos.

O patriarcado universalista masculinizante fez um pacto: dominar a Terra e as mulheres.

Nós, com o ecofeminismo, fazemos um combinado: nem a Terra e nem as mulheres serão mais território de conquistas forçadas – e caminharemos lado a lado.

Juntei nesse breve texto algumas impressões das várias mentes que ressoam em mim, escritas por uma única mão que se alterna canhota e destra.

Até breve!
Vanessa Lemgruber


Instagram: @ecofeminismo.vanessalemgruber