Pessoa com as mãos ao redor de um planeta Terra feito de papel crepom.

Quando percebemos que tudo é uma questão de causa e efeito, começar a entender nosso papel como seres humanos com atitudes sociais e catalisadoras de mudanças pode se mostrar um desafio assustador. Por isso, a importância de se falar sobre cultura regenerativa e suas implicações no mundo é uma espécie de necessidade.

Daniel Christian Wahl – educador e ativista especializado em inovações transformadoras para culturas regenerativas – disse, certa vez, que “a Regeneração aparece como alternativa à forma como fazemos negócios atualmente, como nos comunicamos e nos relacionamos”. Segundo o estudioso, este é um caminho para fazermos negócios mantendo um compromisso com o planeta e com quem partilha ele.

A pergunta que fica, em um primeiro momento, é “o que é cultura regenerativa“ e como aplicá-la na vida íntima para, dessa forma, atingir o coletivo e a habilidade grupal de transformar. Abaixo, comentaremos esses pontos explicando melhor as ideias de Wahl e os desdobramentos dela.

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O que é cultura regenerativa?

Explicar o tema é entendê-lo, antes de mais nada, como uma visão de mundo. A cultura regenerativa é estimulada em núcleos de pensamentos sistêmicos que se debruçam sobre diversas áreas sociais.

Educação, saúde, gestão pública, noção de individualidade e de coletivo, empreendimentos e demais áreas existentes começam a observar e reconhecer que as ações empregadas no mundo geram impactos de forma direta e indireta no meio ambiente, no bem-estar e na vida do planeta.

A cultura regenerativa, portanto, caminha junto à tomada de consciência sobre a co-responsabilidade por trás das comunidades, tomando como direcionamento a construção de novas realidades a partir da inteligência coletiva.

A pauta prega por uma vida saudável, resiliente e adaptável, que cuida de sistemas naturais e da vida presente neles, entendendo que essa é a forma mais eficaz de construir um futuro próspero para a humanidade.

Trata-se, afinal, de compreender que nossas atitudes importam e influenciam os ambientes em que estamos inseridos, transformando-os com base em como nós mesmos mudamos e nos adaptamos. 

Em abril de 2020, Wahl, escritor de um dos livros mais influentes sobre o tema, realizou uma conferência virtual falando sobre como redesenhar o impacto humano na Terra. No evento, pautas recentes, como o coronavírus, foram levantadas pelo autor, traçando um paralelo com o Novo Paradigma. Confira o vídeo completo abaixo, disponibilizado pelo canal Culturgest:

Como cultivar a cultura regenerativa?

A cultura regenerativa é um conceito amplo, inclusive por fazer jus à transformação que vai para muito além do individual e impacta diretamente as sociedades, os sistemas ecológicos e, em cadeia, o mundo.

A melhor forma de iniciar, portanto, é se atendo ao caráter individual para, depois, expandir as ideias e filosofias para a comunidade e, pouco a pouco, construir o Novo Paradigma. Pautados nas ideias de Wahl, conseguimos traçar um caminho inicial para estímulo da Regeneração.

Use o Princípio da Precaução

O Princípio da Precaução não é necessariamente um conceito da cultura regenerativa, mas pode ser aplicado a ela dada a relação entre ambas as pautas. Basicamente, lidamos com ele em diversas organizações sociais, como em diversas ações da ONU e até em convenções, como o Rio +20, promovido em 2012.

A Declaração de Wingspread, escrita em 1998, define que o Princípio da Precaução é, na realidade, um conjunto de medidas preventivas que devem ser tomadas todas as vezes em que uma atividade ou ação apresentarem ameaça para a natureza (partindo do pressuposto de que a vida humana faz parte dela). O ato de queimar terras, por exemplo, é uma atitude que não seria realizada se todos utilizassem o Princípio em suas vidas íntimas e pessoais, guiando a forma de agir.

O Princípio da Precaução se mostra muito mais operável quando somada a ideia do individual, apresentada anteriormente. Afinal, não temos controle sobre grandes organizações e sequer conseguimos ser onipresentes para evitar inseguranças sempre que elas estiverem prestes a acontecer.

Por outro lado, se adaptamos o conceito dentro de nossas realidades, se torna possível – e prazeroso! – começar a praticar a cultura regenerativa. Temos mais controle sobre, por exemplo, o consumo desenfreado, o capitalismo selvagem, a separação de resíduos e por aí vai.

Mulher comprando frutas com sacolas reutilizáveis.
A substituição de sacolas e sacos plásticos ao ir às compras, por exemplo, é uma medida de aplicação do Princípio da Precaução.

Aplicar o Princípio da Precaução não significa impedir que um incêndio aconteça, mas prevenir para que, no futuro, todos tenham a consciência de que eles podem ser evitados. Quando nos lembramos que as pessoas estão conectadas umas às outras, reunimos combustível para criar exemplos, diálogos e rodas de conversa em que compartilhamos ideias e, também, ideais.

Podemos, ainda, criar um paralelo entre a precaução e os estudos de Bill Reed, que pregam os “pensamentos de sistemas vivos” que não querem causar menos danos à natureza, mas, sim, participar dela.

Reed salienta mais ainda a importância das ações individuais ao afirmar que as mudanças não podem ser entendidas apenas como técnicas, econômicas, ecológicas e sociais. É preciso uma mudança de pensamento próprio, que nos reposicione junto de nossos relacionamentos e da forma como cultivamos cada um deles.

Construa uma nova mentalidade

A cultura regenerativa solicita que pensemos, antes de participar dela, sobre as condições e organizações sociais. Atualmente, o meio em que vivemos é regido por convenções que se demonstram problemáticas e precisam ser repensadas.

Sistemas patriarcais, industrializados, separatistas e excludentes dominam o pensamento e, dessa forma, as atitudes. Há uma tentativa de mecanizar relações, sentimentos, ambientes e, inclusive, pessoas. 
No entanto, é muito mais propício olhar para essas questões quando as entendemos como sistemas vivos, nos quais todos – pessoas, animais, plantas, bactérias etc. – são Natureza, possuindo papel ativo sobre a existência.

Ilustração de residências brancas com fundo azul.
Construir uma linha de pensamento pautada na conexão ajuda a compreender o sentido de “todo” e a cuidar de nossas relações. Tradução da imagem de cima para baixo: “Posso te ajudar?”, “Como você está?”, “Você não está sozinho!”, “Compartilhe gentilezas”.

Entendendo as cidades, organizações, bairros, experiências e demais situações como sistemas vivos, passamos a notar relações de interdependência entre eles, além do fato de serem constituídos por organismos em constante transformação.

Dessa forma, os meios sociais deixam de ser esvaziados e passam a se tornar objetos de estudo, de análise e de reflexão. Um processo que Felipe Tavares chamou de mapeamento de processos da vida

Essa mudança de mentalidade é o que constitui o uso do pensamento sistêmico, que observa o contexto e a interdependência de forma a alinhar práticas coerentes com o bem-estar e o funcionamento de ecossistemas, respeitando e honrando outros seres vivos.

Entenda os seres humanos como parte do todo

A sociedade moderna, principalmente após a industrialização, separou os seres humanos da natureza e os colocou em um papel de conquistadores com capacidade superior e elevada em relação a outros seres vivos.

Esse pensamento não só aumenta a dificuldade de ser parte como nos afasta da responsabilidade com o todo. A cultura regenerativa, portanto, estimula a ação de conexão e a noção do interser (de forma sucinta, a consciência da intercomunicação entre todos os seres vivos, reinos e componentes do universo). 

Dessa forma, desenhamos sistemas ecológicos em que somos a própria natureza, com comportamentos dinâmicos, complexos, interdependentes e evolucionários, que visam o respeito e o cuidado.

Quando nos colocamos como parte integral do ecossistema, o Princípio da Precaução é automaticamente resgatado, já que prejudicar o meio é, também, prejudicial para nós. 

Volte a atenção para a autoconsciência

Pode parecer repetitivo, mas a cultura regenerativa pede o entendimento do estar presente  e de um processo de construção pautado na autoconsciência e no lugar em que está inserido.

Como seres humanos modernos, tendemos a ver o todo e ficamos ansiosos quando nos deparamos com processos lentos, constituídos de ações pequenas e movidos por práticas cotidianas e diárias que, a primeiro momento, parecem não surtir grandes impactos.

Homem negro meditando.
A meditação é um dos caminhos para o autoconhecimento e para o autocuidado, visto que a atenção está focada em desacelerar e manter um tempo de foco em si.

No entanto, a cultura regenerativa valoriza, justamente, a habilidade de identificar padrões em ambientes mais singulares para, a partir daí, agir para o todo e para os relacionamentos.

O processo de repensar atitudes e de buscar conhecimento de um lugar em específico (mais focado no “eu” e no que está à sua volta) permite que ajustemos abordagens dentro do nosso círculo e afetando a nossa própria bolha para que, com o tempo, outras adentrem o processo de regeneração.

Respeite o tempo

As ansiedades e o imediatismo do século XXI começaram a cobrar, cada vez mais, ações de efeito rápido e focadas em “soluções” para a semana.

Um dos pontos mais importantes da cultura regenerativa é compreender que os sistemas estão completamente conectados e, por isso, ações surtirão impactos com o tempo. A forma de fazer isso, portanto, é respeitando a passagem dele.

Ações individuais e focadas em microambientes podem levar certo período para se tornarem hábitos e constituírem grandes transformações. É importante ter paciência e lembrar que o sucesso do sistema regenerativo está em como futuras gerações adentrarão as sociedades para dar continuidade ao processo, compreendendo, novamente, a relação de interdependência presente em todos nós.

Aprofunde-se nas pautas

O processo de evolução pede que estudemos, entendamos conceitos e nos conectemos com novas e antigas tendências para avaliar atitudes dentro do Princípio da Precaução e do cuidado com o todo.

Além dos livros, é possível encontrar vídeos, apresentações, conferências e até podcasts sobre cultura regenerativa na internet. Entender os impactos que causamos na cultura moderna e como nos tornarmos objeto de transformação é fundamental para nutrir e construir um pensamento sistêmico.

Mulher lendo um livro na cama com uma xícara de café ao lado.
Separar um tempo para consumir conteúdos e compreender os temas importantes é parte primordial para a construção de um futuro mais justo e respeitoso, afinal, a desconstrução vem com estudo.

É importante entendermos que somos seres políticos. Logo, nossas escolhas e ações influenciam o todo, transformam sociedades, remodelam comportamentos. A solução, portanto, é estudar para que essas mudanças aconteçam alinhadas aos benefícios e posicionamentos que queremos para o mundo à nossa volta.

A cultura regenerativa e sua relação com o Novo Paradigma

A relação é direta. Entendendo “paradigma” como um conjunto de teorias, métodos e experiências que colocam determinado sistema em formação, a cultura regenerativa e suas práticas surgem como um caminho para a instauração de novas linguagens, conceitos, metáforas e ideias que constituírão, conforme a prática, uma nova realidade.

A criação e consolidação de um novo futuro parte, principalmente, da instituição de uma nova cultura. Afinal, é importante pensar como essa palavra que, por vezes, é negligenciada, dita muito da nossa estrutura social.

É pela cultura que construímos hábitos, tomamos decisões e podemos – ou não – construir o Novo Paradigma.

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